Postagens

Mostrando postagens de 2011

Conversa com Mia Couto e Agualusa

Imagem
Numa segunda feira, dia 10 de outubro de 2011, fui para Paris para ver e ouvir Mia Couto. De brinde, digamos assim, conheceria pessoalmente Agualusa. De Mia Couto li quase tudo. De Agualusa ainda falta muita coisa, mas do que li (e vi, porque já fui ver um texto seu encenado) gostei. Me orgulho de tê-los como escritores em lingua portuguesa para poder indicar boas e recentes leituras aos meus amigos que falam ou se interessam em aprender português. Para esse encontro ficar completo eu levaria valter hugo mãe. Diria que essa é minha tríade lusófona favorita. A cada um foi dada a missão de falar sobre seu livro, mas visivelmente eles não pareciam muito à vontade para tal. Mas como era o lançamento das traduções de Jesusalém e Barroco Tropical em francês, algo teria de ser dito sobre os livros. AGUALUSA E O BARROCO TROPICAL Agualusa começou a conversa, dizendo que aquele foi o seu livro mais complexo, talvez o melhor e sem dúvido o que lhe deu mais trabal

se houvesse o remorso de serapião

Imagem
O segundo livro de valter hugo mãe que li foi o segundo escrito pelo autor, em 2006: “o remorso de baltasar serapião”. Nesse livro o uso das minúsculas é mais efetivo, criando a rusticidade do ambiente e a emenda entre fala e pensamento dos personagens. Narrado por baltasar serapião, um dos “sargas”, nome da vaca da família, a historia é de leitura trabalhosa pelos temas abordados, por sua forma e sua linguagem.    A historia não é datada, mas a contracapa do livro nos diz que se passa em uma idade média brutal e miserável. Eu dispensaria essa datação, deixaria o espaço e o tempo se construírem de acordo como o repertório de lugares e conhecimentos do leitor. A historia não necessita de datação, justamente por isso o autor não o faz. Ele dá indícios pelos personagens do “senhor” e de “el-rei”, entretanto podem ser apenas metáforas de um modo de poder já tão antigo e repetido. Veremos ao longo do livro como a condição de vida dos personagens não sofreram alteração em alguns lugares

A melhor técnica da coleção de Tavares

Imagem
Essa foi a segunda chance dada ao Gonçalo M. Tavares e ele foi aprovado . Aprender a rezar na era da técnica é um livro que alcança os resultados que Jerusalém apenas almejou/projetou. Mais uma vez a escrita é curta, matemática, precisa e os capítulos funcionam muito bem, aspergindo a história em pequenas doses de calculismo. Gosto do ritmo impresso à história. Uma maneira de leitura muito boa e adequada à ansiedade da velocidade. O personagem principal é calculista, frio e demasiado umano (tirei o h da palavra para criar uma nova categoria de homem). Lenz Buchmann (sobrenome do personagem de “O vendedor de passados” - curioso dois livros portugueses utilizarem esse sobrenome na mesma época de escritura ademais...) é um controlador mental, não admira o humanismo de maneira alguma e considera fracos os que têm medo, aprendizado da ditadura familiar de seu pai. Nada nele inspira compaixão por outro ser humano: como médico ele é apenas um técnico, com a precisão da mão que orques

Os sonhos da osga tigrada

Imagem
O vendedor de passados , livro de José Eduardo Agualusa , escritor lusofone entre Luanda e Lisboa é um belo retrato da memória. Sobre a construção da memória de alguém engendrando a reconstrução memória de um povo e de um país. É uma sátira daquilo que a recente descolonização provoca nos destinos. Um país que deve esquecer as mazelas do colonialismo, mas que se defronta com os problemas do poder permeado de brigas étnicas, que deve esquecer que passou pelo comunismo, mas que possui seus símbolos e hábitos ainda vivos em muitas pessoas, em suma, ao se refazer o passado de alguém, se modifica pouco a pouco a história de um país. Um negro angolano, que por ventura é albino, nascido em berço livresco, ninado sobre As Relíquias de Eça de Queiroz é o personagem principal da historia. Sua missão é a de reescrever passados: “Assegure aos seus filhos um passado melhor” diz seu cartão. Seu fiel companheiro, escutador de histórias, é uma osga, que habita e vive a casa onde moram. É quem melho

Jorgar-se no Mar de Banville

Imagem
John Banville é um escritor irlandês que está na primeira metade dos seus 60 anos. Inicialmente (pouco) conhecido devido a sua fama de escritor para escritores, veja-se um pouco complexo, com o prêmio Booker Prize que obteve em 2005 por seu romance “O mar” ele se torna um autor lido pelo público em geral. Uma barreira que foi quebrada para o seu bem e o da literatura. Ele também escreve romances utilizando o pseudônimo Benjamin Black , que possui uma escrita mais espontânea e prazerosa, se comparado à busca de palavras e ao trabalho de cada frase de Banville. Por isso mesmo, ler Banville e seu “La mer” em francês não é a mesma coisa que lê-lo em português. O prazer das palavras e da frase só se sente bem na sua própria língua (isso se a tradução for bem feita e mesmo assim o efeito não é o mesmo do original em inglês). Mesmo assim, só se pode ser elogioso ao falar de sua escrita. Ele escreveu três livros Athéna, Éclipse e L’Intouchable e com La mer ele opera uma mudança na sua es

Os museus de arte africana da França parte 1

Imagem
Na conferência de Berlim (1884-1885), as potências europeias recortaram cirurgicamente a África sub-saariana em espaços de dominação culrural e econômica. Nessa época, igualmente, se solidificam os estudos evolucionistas, que veem nessas populações um excelente viveiro de espécies humanas. A África se torna um objeto de estudo e sua cultura material é apreendida nesse sentido. Isso porque no fim do século XIX a Europa se tomava como modelo de civilização e assim justificava sua ideologia humanista, fazendo com que a pesquisa de campo fosse apenas mais um testemunho que aferia a verdade de seu pensamento. No Brasil também tivemos nossos teóricos que, baseados nos estudos evolucionistas de Spencer [povos superiores (europeus) e inferiores (indígenas)] e Darwin (e o que chamamos de darwinismo social,) tentavam justificar alguns aspectos da sociedade brasileira a partir do conceito de raça e cultura. Um dos nomes mais marcantes foi o do baiano Nina Rodrigues, que como Franz Gall também