Postagens

Mostrando postagens de junho, 2011

Jorgar-se no Mar de Banville

Imagem
John Banville é um escritor irlandês que está na primeira metade dos seus 60 anos. Inicialmente (pouco) conhecido devido a sua fama de escritor para escritores, veja-se um pouco complexo, com o prêmio Booker Prize que obteve em 2005 por seu romance “O mar” ele se torna um autor lido pelo público em geral. Uma barreira que foi quebrada para o seu bem e o da literatura. Ele também escreve romances utilizando o pseudônimo Benjamin Black , que possui uma escrita mais espontânea e prazerosa, se comparado à busca de palavras e ao trabalho de cada frase de Banville. Por isso mesmo, ler Banville e seu “La mer” em francês não é a mesma coisa que lê-lo em português. O prazer das palavras e da frase só se sente bem na sua própria língua (isso se a tradução for bem feita e mesmo assim o efeito não é o mesmo do original em inglês). Mesmo assim, só se pode ser elogioso ao falar de sua escrita. Ele escreveu três livros Athéna, Éclipse e L’Intouchable e com La mer ele opera uma mudança na sua es

Os museus de arte africana da França parte 1

Imagem
Na conferência de Berlim (1884-1885), as potências europeias recortaram cirurgicamente a África sub-saariana em espaços de dominação culrural e econômica. Nessa época, igualmente, se solidificam os estudos evolucionistas, que veem nessas populações um excelente viveiro de espécies humanas. A África se torna um objeto de estudo e sua cultura material é apreendida nesse sentido. Isso porque no fim do século XIX a Europa se tomava como modelo de civilização e assim justificava sua ideologia humanista, fazendo com que a pesquisa de campo fosse apenas mais um testemunho que aferia a verdade de seu pensamento. No Brasil também tivemos nossos teóricos que, baseados nos estudos evolucionistas de Spencer [povos superiores (europeus) e inferiores (indígenas)] e Darwin (e o que chamamos de darwinismo social,) tentavam justificar alguns aspectos da sociedade brasileira a partir do conceito de raça e cultura. Um dos nomes mais marcantes foi o do baiano Nina Rodrigues, que como Franz Gall também

O matadouro de Vonnegut

Imagem
Na entrevista que fiz com Rodrigo Fresán, ele insistiu várias vezes que o melhor livro ou ao menos o livro que ele mais releu e que mais o ensinou é “Matadouro 5” do norte-americano Kurt Vonnegut. Tendo gostado de suas obras e sendo a última que ele escreveu, El fondo del cielo, uma espécie de homenagem a seus mestres não demorei em ler o tal livro. O primeiro capítulo nos introduz sobre o fazer da história, o porque escrevê-la. Vonnegut foi lutar na segunda guerra mundial e estava em Dresden quando a cidade foi destruída por bombardeios, sendo que ela não era um alvo militar e o ataque matou 135.000 pessoas. Ninguém falou muito do acontecido, dando mais relevância para Hiroshima, por exemplo. Ele sentia uma certa obrigação de relatar os horrores de ver uma cidade devastada pelo fogo como ele viu, e em 1971 lançou um dos romances que obtiveram maior sucesso na geração da contra-cultura americana, sendo ele um autor incontestável dessa geração. O livro é o relato da vida de Billy,

Porque sim valter hugo mãe e porque ainda não Gonçalo M. Tavares

Imagem
Na semana passada fui à livraria Chandeigne em Paris comprar alguns livros em português. Queria ler a prosa contemporânea, aclamada nos dias de hoje, de Tavares e de mãe. Comecei pela leitura de Jerusalém de Tavares, pois ele havia participado das AIR de Lyon e é um autor jovem muito festejado pela crítica, tendo recebido muitos prêmios, inclusive por este livro que li. A leitura é rápida e agradável. A história é boa e bem contada.Os capítulos curtos e interessantes. Passa-se bem o tempo. Já o compararam à Kafka. Eu digo não. Dizem que a história tem o mesmo quê do Alienista de Machado de Assis, nem tanto. Propósitos diferentes e grandezas diferentes. Qual o propósito de colocar um personagem, o doutor Busbeck, como defensor de uma religiosidade no momento onde o físico e o psicológico falham para a saúde? Seria um eco reminiscente do religiosismo português? Desse catolicismo intrínseco das famílias mais tradicionais? Gosto dos casais Hannah e Hinnerk como dois seres pensados na

Mundialização e Catástrofe

Imagem
No dia 28 de maio de 2011 estive presente nas AIR para duas conferências além da entrevista que fiz com o escritor argentino Rodrigo Fresán. As duas mesas-redondas tinham temas que se encadeavam: Mundialização: vertigem do tempo e do espaço e A catástofe. A primeira mesa era composta por uma escritora francesa, Maylis de Kerangal, que escreveu Naissance d’um pont para ilustrar a construção de um símbolo da mundialização: uma gigantesca pote suspensa é o preâmbulo da mutação de uma pequena cidade norte-americana em uma Dubai do terceiro milênio. A epopéia da técnica é permeada pela história de trabalhadores de todo o mundo que vieram construir esse engenho da domesticação do espaço. Outro convidado foi o físico Étienne Klein, um dos membros do projeto do acelerador de partículas que escreveu o livro Discours sur l’origine de l’univers onde discute as grandes questões da física, sensibilizando o leitor sobre a grande busca da cosmologia “o começo, essa questão sem fim”. O terceiro