Porque sim valter hugo mãe e porque ainda não Gonçalo M. Tavares

Na semana passada fui à livraria Chandeigne em Paris comprar alguns livros em português. Queria ler a prosa contemporânea, aclamada nos dias de hoje, de Tavares e de mãe. Comecei pela leitura de Jerusalém de Tavares, pois ele havia participado das AIR de Lyon e é um autor jovem muito festejado pela crítica, tendo recebido muitos prêmios, inclusive por este livro que li.
A leitura é rápida e agradável. A história é boa e bem contada.Os capítulos curtos e interessantes. Passa-se bem o tempo. Já o compararam à Kafka. Eu digo não. Dizem que a história tem o mesmo quê do Alienista de Machado de Assis, nem tanto. Propósitos diferentes e grandezas diferentes.
Qual o propósito de colocar um personagem, o doutor Busbeck, como defensor de uma religiosidade no momento onde o físico e o psicológico falham para a saúde? Seria um eco reminiscente do religiosismo português? Desse catolicismo intrínseco das famílias mais tradicionais?
Gosto dos casais Hannah e Hinnerk como dois seres pensados na repulsa da sociedade. Coisa que não deixa de ser Ernst e Mylia e Mylia e Brusbeck. Todos esses casais são do lado negro. Daquilo que deve ser escondido da sociedade dos bons costumes. O único fruto desses relacionamentos é Kass, o filho dos “loucos”, cuidado e educado pelo doutor traído. Filho doente e mal visto, disfarçado nas suas falhas. O doutor estuda os pontos de culminação de horror na sociedade, tentando explicar seus ciclos. Os nomes dos personagens nos leva a pensar num país germânico, a teoria do horror no genocídio e os personagens nas vítimas a serem eliminadas da história para que tudo se purifique. Mas ao contrário do que se possa imaginar pela descrição dessa carga de “horror”, o livro é leve e não machuca. Para mim não passou de um bom momento de leitura leve, sem mais. Mas se a crítica foi tão incisiva ao celebrá-lo, darei uma segunda chance ao autor, pois todos merecem uma segunda chance e talvez uns livros nos falem mais que outros. Por enquanto não me convenceu a escrita de Tavares.

Já valter hugo mãe nos aterroriza desde as primeiras páginas de sua “a máquina de fazer espanhóis”. O começo do livro é tudo aquilo que você não quer que seus pais ou avós leiam sob pena de se culpar por aquilo que um dia pode ser feito. O remorso do que ainda não aconteceu e nem sabemos se um dia acontecerá (mesmo com a gente).
esse livro já é pungente desde seus primeiros capítulos. dói demais, mas queremos continuar a sentir a dor e por isso continuamos na leitura que é sim prazerosa. rimamos prazer e dor para dilacerar nossas mais boas intenções. o personagem, o senhor silva, é um bonachão de primeira que nos cativa incialmente por seu imensurável amor por laura. depois é um casmurro justificado. Depois um encantado pela metafísica de esteves, personagem construído com maestria, muito sonho e ilusão. silva pouco a pouco adocica e ironiza sua condição. vive a amizade que nunca teve, e descobre o seu oposto, a solidão e finalmente a angustia daqueles que tocam pouco a pouco os muros da ala esquerda do asilo. da historia ao estilo, da construção dos personagens e do encadeamento de capitulos, do namoro com a historia do país e da vida banal que corre nas ruas e se esconde nas barbearias, vater hugo mãe tem o dom da escrita. esse sim. e claro, que como toda boa coisa que conhecemos, volto à ele, e com prazer. (tudo foi escrito com minúscula pois é assim que ele escreve).

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